O Poder do Feminino na Liderança da Cultura Popular Maranhense: História, Memória e Legado
Este é um projeto de pesquisa sobre comunidades tradicionais e ancestralidade africana – a posição da mulher e do feminino em religiosidades de matriz africana e cultura popular no Maranhão aonde eu entrevisto líderes comunitárias que fazem a diferença neste estado. É conduzido pelas Professoras Dra Marilande Martins Abreu, do Departamento de Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Maranhão e Simone Ferro do Departamento de Dança na Universidade do Wisconsin em Milwaukee nos Estados Unidos e tem apoio da Fulbright Brasil, UFMA, e UWM.
Episodes

Monday Feb 24, 2025
Maria de Jesus Conçeição Podcast
Monday Feb 24, 2025
Monday Feb 24, 2025
Aqui é Simone Ferro e hoje eu tenho o prazer de entrevistar a líder comunitária Maria de Jesus Conceição.
Nascida no dia 9 de maio de 1965 em São Luis, Maria é técnica de enfermagem, faz parte da guarda municipal de São Luís e é filha-de-santo do Terreiro Pedra de Encantaria, do Pai José Itaparandi, localizado no bairro do Maiobão, na grande São Luís.
Maria nasceu e cresceu no ambiente do terreiro, pois a sua avó paterna, Margarida Mota, tinha um terreiro que ficava no Lira, atrás do cemitério do Gavião, e sua mãe era filha de santo de Mãe Mundica da Vila Passos. Crescendo em Terreiros de Mina, ela conviveu desde cedo com José Itaparandi que no futuro se tornaria filho de Santo de Mãe Mundica.
A sua mediunidade começou cedo, quando aos 13 anos caiu no santo. No entanto a sua mãe não queria que a filha fosse iniciada na Mina, uma vez que queria priorizar os estudos da filha. Foi desta forma que ela conseguiu que suspendessem a corrente de Maria até que ela completasse 18 anos. E assim foi.
Continuando a sua vida acadêmica, Maria se graduou como Bacharel em Contabilidade pela UEMA, agregando uma Licenciatura em Matemática pela FACAM, o que permitiu que ela tivesse a oportunidade de trabalhar em diversas escolas. Além disso, ela obteve nível técnico em enfermagem e, em 1991, ela passou para a Guarda Municipal de São Luís.
Após a inauguração da Casa da Mulher Brasileira em 2017, localizada no bairro do Jaracaty em São Luís, Maria foi selecionada para trabalhar na Delegacia Especial da Mulher, onde até hoje ajuda mulheres que sofrem violência domestica através de medidas protetivas e colabora com diversos programas elaborados com o intuito de promover o empoderamento das mulheres.
Naquele mesmo ano, Maria se tornou filha do terreiro Pedra de Encantaria, e continuou o seu aprimoramento espiritual como filha de santo de Pai Itaparandi. Em 2020, ela foi iniciada no seu santo.
A trajetória de Maria, como mulher preta dedicada à espiritualidade e também ao bem-estar das inúmeras mulheres com quem ela interage diariamente, fazem dela uma pessoa altruísta cujas ações traduzem valores humanos, respeito e solidariedade para com o próximo. Bem-vinda Maria.

Monday Sep 30, 2024
D. Dozinha dos Santos Pires Podcast
Monday Sep 30, 2024
Monday Sep 30, 2024
Aqui é Simone Ferro e em março de 2022 eu tive o grande prazer de entrevistar a D. Maria das Dores dos Santos Pires mais conhecida como D. Dozinha.
Nascida no dia 5 de maio de 1930 em Cururupu, Maranhão, D. Dozinha foi filha de santo de Mãe Mundica da Villa Passo, que era filha de santo do Terreiro do Justino, conhecido como Terreiro de São Benedito, localizado na Vila Embratel em São Luís, terreio do qual fez parte até a sua morte em junho de 2022. Dona Dozinha, foi chefe espiritual da Casa Fé, Caridade e Esperança, localizada no Rio Grande, bairro da zona rural de São Luís. Sempre muito respeitada e admirada por todos, D. Dozinha ocupou durante muitos anos um papel de liderança no seu bairro, coordenou aulas para crianças carentes da região, realizou sessões astrais, toque de mina e Festa do Divino. Fundou também o Bumba Meu Boi Vencedor do Rio Grande.
Esta entrevista foi conduzida três meses antes da sua morte, o que para todos nós foi muito prematura.

Wednesday Feb 14, 2024
D. Jovina Silva Gomes Podcast
Wednesday Feb 14, 2024
Wednesday Feb 14, 2024
Aqui é Simone Ferro e hoje eu tenho o grande prazer de estar entrevistando a líder comunitária, produtora cultural e ativista D. Jovina Silva Gomes.
Nascida no Quilombo do Frechal, localizado na Baixada Maranhense, num sábado de Carnaval, no dia 8 de fevereiro de 1939, D. Jovina cresceu em um ambiente de festas, mas também em um mundo de desigualdades. Lavradora, trabalhadora rural e mãe de família, ela se tornou líder de sua comunidade ao vivenciar injustiças sociais. Com o passar dos anos, se tornou ativista pelas causas do reconhecimento das terras dos povos originários.
Acreditando na legitimidade do processo de reconhecimento latifundiário, ela foi responsável pela organização da primeira reunião do Frechal como quilombo reconhecido com o decreto promulgado em maio de 1994. Desde então, ela trabalha para o reconhecimento dos direitos da terra e pela preservação e compartilhamento das festas e tradições populares presentes na comunidade do Frechal durante o ano.

Wednesday Nov 08, 2023
Dra Mundicarmo Ferretti Podcast
Wednesday Nov 08, 2023
Wednesday Nov 08, 2023
Aqui é Simone Ferro e hoje eu tenho a honra de estar entrevistando a Doutora e Mestre em Antropologia e Mestre em Administração Pública, Professora Emérita da Universidade Federal do Maranhão e da Universidade Estadual do Maranhão, Dra. Mundicarmo Maria Rocha Ferretti.
Conhecida nacionalmente por suas pesquisas sobre religiões de matriz Africana e do rico folclore maranhense, Dra. Mundicarmo nasceu em Pau dos Ferros, no sertão do Rio Grande do Norte, chegando ao Maranhão com onze anos. Estudou no Colégio Santa Teresa em São Luiz e fazendo graduação em Filosofia na Universidade Federal do Maranhão e Mestrado em Administração Pública na Fundação Getúlio Vargas. Mais tarde realizou um segundo mestrado, com ênfase em Antropologia, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte tendo como foco a música de Luiz Gonzaga. Concluiu sua formação acadêmica na Universidade de São Paulo, realizando doutorado em Antropologia defendendo a tese O caboclo no Tambor de Mina na dinâmica de um terreiro de São Luís: a casa Fanti-Ashanti.
Entre 1991 e 2010 foi secretária administrativa do Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afro Brasileira (INTECAB-MA). Desde 1992, é membro da Comissão Maranhense de Folclore e membro titular da Associação Brasileira de Antropologia (ABA). Professora Emérita e Titular da Universidade Estadual do Maranhão; Professora e Colaboradora da Pós-Graduação em Políticas Públicas e em Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão onde é vice coordenadora do Grupo de pesquisa em religião e cultura popular GPMINA, e da Universidade Estadual do Maranhão. Dra. Mundicarmo possui vários trabalhos premiados for órgãos de cultura locais e nacionais e alguns também divulgados no exterior. Foi companheira de muitas décadas do saudoso antropólogo Prof. Sergio Ferretti.

Friday Jul 21, 2023
Cintia Guajajara Podcast
Friday Jul 21, 2023
Friday Jul 21, 2023
Aqui é Simone Ferro e hoje eu tenho o grande prazer de entrevistar a ativista, líder comunitária, escritora, cantora, guardiã e defensora dos direitos indígenas, Cintia Tenetehára, mais conhecida como Cintia Guajajara.
Nascida de uma união entre a cultura indígena e a do homem branco, na Aldeia Lagoa Quieta, localizada na Terra Indígena Arariboia, na região sul do Maranhão, Cintia cresceu em uma família de liderança, sempre tendo uma relação íntima com a Mãe Terra. Estudou em Campo Formoso, indo para a cidade grande muito cedo. A partir de 1992, começou a ensinar a língua indígena na aldeia a pedido do seu Pajé.
Cintia é formada em Ciência da Educação pela Universidade Federal de Goiás, e é a primeira mulher mestre em linguística Guajajara, observando uma pedagogia progressista ensinando o método Freiriano. O estudo e a imersão no meio acadêmico ampliou a importância da sua reivindicação das identidades étnicas.
Em sua longa jornada como ativista, ela abraça a causa das mulheres indígenas visando o seu empoderamento e autonomia e incluindo sua participação na politica. Foi candidata à vereadora de Amarante do Maranhão, quando levantou discussões em torno das espiritualidades indígenas relacionando-as a saúde e cura desses povos, além de reconhecer a importância das questões relacionadas ao meio ambiente.
Cintia articulou a criação da AMIMA (Articulação das Mulheres Indígenas do Maranhão), onde hoje é Vice Coordenadora, e é presidente do conselho da UMIAB (União das Mulheres Indígenas da Amazonia Brasileira).
Ela luta pelo movimento indígena, memória dos seus antepassados, e sua força espiritual auxilia na luta contra o racismo e o preconceito. Cintia acredita no protagonismo das mulheres nos movimentos sociais. Ela é prima de Sonia Guajajara, Ministra dos Povos Indígenas na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Sunday Jun 11, 2023
Emília Nazar Podcast
Sunday Jun 11, 2023
Sunday Jun 11, 2023
Aqui é Simone Ferro e hoje eu tenho o grande prazer de entrevistar a empresária, delegada cultural e líder comunitária Emília Nazar.
Dona Emília nasceu em 1959 no povoado do Pindobal, no município de Cachoeira Grande, hoje chamado Cachoeira de Morros, na região do Munim, no mesmo ano em que foi fundado o Bumba-Meu-Boi de São Simão pelo seu pai José Ribamar Nazar. Ela cresceu no meio do Bumba-meu-boi sotaque de orquestra, como é tocado e representado na região do Munim.
Com a morte do seu pai, passou a liderar o grupo juntamente com os seus irmãos, seguindo os passos do seu pai. Em 1984, nasce a Sociedade do Bumba-meu-boi de São Simão e a construção da sede também é estabelecida.
Após terminar a faculdade de Direito, ela exerce a profissão por apenas cinco anos, quando deixa a prática para se dedicar inteiramente à liderança do grupo. Aí começa a sua longa e bem-sucedida trajetória como empreendedora cultural e líder comunitária, desenvolvendo espetáculos folclóricos de destaque onde se celebra a tradição do Bumba-meu-boi do interior do Maranhão, valorizando ao mesmo tempo a música, os costumes, os bordados, o artesanato, as danças, os saberes da região e as inúmeras comunidades que compõem o grupo.
Sob a sua liderança generosa, porém firme e visionária, hoje o grupo conta com mais de 120 integrantes entre brincantes, músicos e vários membros da comunidade que acompanham os espetáculos e dão apoio aos participantes.
Com uma agenda repleta de encontros, celebrações, apresentações e eventos religiosos, o grupo se apresenta em arraiais, palcos e praças tanto na ilha de São Luís, quanto por todo o Maranhão. O objetivo é compartilhar com o público as tradições populares do Bumba Boi. A criatividade expressada nas composições musicais, na arte presente em cada um dos participantes e na expressão e valorização da cultura popular maranhense, fazem com que o trabalho do grupo seja reconhecido na em todo o Maranhão.

Sunday Mar 26, 2023
Ieda Maria Silva Podcast
Sunday Mar 26, 2023
Sunday Mar 26, 2023
Aqui é Simone Ferro e hoje eu tenho o grande prazer de entrevistar a ativista, e líder comunitária Ieda Maria Silva.
Nascida na Ponta do São Francisco, em São Luís, em 1963, Ieda cresceu numa família com recursos modestos. Aprendeu cedo as tarefas domésticas e a sobreviver num mundo repleto de opressão, desigualdade e racismo. Sua vida como ativista começou a partir do momento que a família mudou para o bairro Novo Sá Viana, área que na época foi muito contestada pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Seguindo o legado de outras líderes comunitárias femininas, Ieda começou a ensinar na escola dominical na Igreja da Assembleia de Deus aos quatorze anos. O legado no movimento comunitário iniciou dentro da igreja quando, em companhia de outras moças, ela passa a liderar uma campanha contra a fome conhecida como “A Campanha do Quilo”. Sua liderança incansável, sobretudo com aspectos relacionados à falta de ação do poder público em comunidades mais carentes, lhe rendeu muita credibilidade. Ajudou a criar a União de Moradores da Vila Embratel, que chegou a ter mais de dois mil membros. Mesmo afiliada ao Partido dos Trabalhadores, continuou a trabalhar na igreja e a ser respeitada por tudo o que fazia em prol da comunidade. Se casou e, em 1994, começou a vender lanches na Universidade Federal, local onde ficou por muitos anos e ganhou autonomia e conhecimento para desenvolver a sua militância defendendo os direitos dos moradores da Vila Embratel e do eixo Itaqui-Bacanga. Trabalhou com a UEMA e com a União da Vila Monte em projetos de alfabetização ajudando a formar pedagogas que hoje ocupam posições de liderança. Foi candidata a vereadora, deputada estadual e deputada federal. Em 2014, mudou-se para a comunidade do Cajueiro, na zona rural de São Luís, onde continuou o seu ativismo e defensoria dos direitos sociais e fundiários. Hoje, prestes a concluir a graduação em Ciências Sociais pela UFMA, ela continua defendendo os direitos da comunidade do Cajueiro, onde detém um vasto conhecimento histórico e social da região.

Wednesday Dec 28, 2022
Mãe Venina Podcast
Wednesday Dec 28, 2022
Wednesday Dec 28, 2022
Aqui é Simone Ferro e hoje eu tenho o grande prazer de estar entrevistando Ialorixá Maria Venina Carneiro Barbosa, mais conhecida como Mãe Venina.
Mãe Venina nasceu em 1956 no bairro da Madre de Deus, em São Luíz, no Maranhão. Filha de Santo do saudoso Pai Euclides da Casa Fanti-Ashanti, ela é guardiã do Terreiro Ilê Axe Alabedê Ti-Olodumaré, localizado no município de Passo do Lumiar, na ilha de São Luíz. Teve seu primeiro transe quando criança, mas passou a receber encantados com mais frequência, por volta dos 18 anos. Cursou Teologia Cristã para entender as manifestações espirituais que aconteciam com ela. Na sua longa e eclética experiencia de vida foi também armadora da seleção de basquete do Maranhão. Após uma rápida experiência com maracá, foi iniciada no Candomblé́ na Casa Fanti-Ashanti. Hoje, como Ialorixá, ela é líder comunitária e possui grande conhecimento, tanto da historia do Tambor de Mina no Maranhão quanto do Candomblé. Mãe Venina é filha de Ogum e de Iemanjá.